sábado, 22 de dezembro de 2012

Breve estudo - Abelhas Nativas

    As abelhas nativas, em especial as sem ferrão, que na verdade o tem porém atrofiado, são algo dessa breve postagem. Tenho um carrinho especial por estes insetos, devido as suas peculiaridades se comparados com a Appis Mellifera, até mesmo porque antes da cana-de-açúcar ser implantada e a abelha européia e africanizada ser introduzida no Brasil, o mel era o principal adoçante e a cera usada para fabricação de velas.
    Pesquisas indicam que pelo menos um terço da alimentação humana depende direta e indiretamente da polonização feita pelas abelhas, em especial as nativas que realizam a tarefa de forma fundamental, pois a realizam em espécies específicas onde as abelhas “comuns” não realizam. Esse processo é chave para tudo, pois a planta necessita transferir células reprodutivas para outra flor ou até mesmo para outra planta para se reproduzir através de frutos. Nas flores encontra-se o pólen que alimenta as abelhas de proteínas, lipídios e vitaminas e o néctar que será usado para a produção de mel, fonte de carboidratos e energia, usados nas épocas frias, ou de falta de floradas. Assim um depende do outro, e quem acaba se beneficiando no final somos nós, seja pelo próprio mel seja pelo ciclo de vida que é mantido.
    O que fazer para manter esse ciclo vital? Acredito que os primeiros passos sejam conservar a natureza em si e pesquisar os hábitos de sobre vivência dessas espécies.
Indo direto ao assunto, as abelhas nativas são divididas entre Meliponini e Trigonini. A principal diferença que as distingue é a criação de rainhas. As Meliponini não possuem células reais, elas são definidas geneticamente, já as Trigonini tem células reais que são maiores e recebem então mais alimento. Como está estruturada uma colméia? Basicamente ela possui uma hierarquia: operárias (fêmeas), rainha(s) e zangões.
    As operarias são abelhas femeas que tem por função principal manter a limpeza, proteger e trazer alimento. Podem representar mais de 80% dos indivíduos. A rainha é responsável pela postura de ovos, ou seja ela é quem literalmente repõem os indivíduos na colméia. Sem rainha poedeira, uma colônia se torna órfão, e se nada for feito está condenada a sucumbir. Em certas espécies podem existir mais de uma rainha poedeira além de ter sempre rainhas virgens aprisionadas, prontas para uma possível substituição, ou para uma enxameração. Já os machos tem uma característica em especial se comparados com os da espécie Apis, onde eles não executam função além da reprodução. Aqui eles podem executar tarefas simples como desidratação de néctar e manipular a cera. Algo curioso que quero destacar aqui é de que quando uma colméia fica orfãn, em certas espécies abelhas operárias também podem fazer a postura de ovos, o que na sua grande maioria origina somente machos. Então ao se observar uma colméia principalmente do gênero Melliponini, onde a quantidade de machos é enorme, a colméia está prestes a sucumbir, pois isso é uma medida emergencial digamos assim.
    Agora quanto a forma do ninho, ele tem duas estruturas principais, o ninho e os potes de alimento, além de ter estruturas auxiliares como o o túnel de acesso, a entrada, batume e invólucro.
Os potes de alimento na sua grande maioria são em forma de ovo, sendo o mel e o pólen separados. Já o ninho pode ser organizado na forma de favos ou em cachos de células de cria, que recebem uma mistura de mel e pólen que vai sustentar a cria durante seu desenvolvimento, depois de eclodir elas se alimentam principalmente de mel. Aqui quero destacar um fato importante: em algumas espécies, uma rainha pode se originar quando a larva comer o alimento da célula de cria ao lado e durante a fase de pré-pupa, ela realmente tecer um casulo real. Em outros casos, o que não é raro em certas espécies, uma operária coloca se ovo, e passa despercebido pelas outras e pela rainha, onde esta vai e coloca o seu ovo também na mesma célula de cria. O ovo da operária como o ovo depositado pela rainha e invade o a célula ao lado originando os machos, mas isso somente em certos casos.
    Continuando, o invólucro tem a função de isolante térmico da colméia, e principalmente do ninho. A entrada é a porta da casa , sempre vigiada por sentinelas. Esta está conectada ao túnel de ingresso que sempre possui guardas a disposição, pois logo depois há o invólucro e o ninho, o coração de cada colméia.
O batume por sua vez tem como exclusiva função proteger a colméia da chuva estando na parte superior, e permitir a ventilação e escoamento de água na parte inferior.
    É fundamental ter uma noção da organização de uma colméia que irá seguir basicamente os mesmos conceitos em todas as espécies nativas sem ferrão. Uma colméia origina outra quando estiver num ponto adequado de faze-lo, precisando ter em primeiro lugar abundancia de alimento, ou seja nas floradas onde néctar e polén estão em abundância. Depois é necessário que tenha uma população excedente, onde algumas operárias vão em busca de uma nova moradia, estudando as melhores opções, e depois começa-se a organização da nova colméia.
    As duas colméias ficam ligadas por até mesmo um mês, para que a nova morada tenha boas condições de começar uma vida nova. Depois de organizada, algumas operárias e uma rainha virgem partem para a nova colméia. Após isso a rainha realiza o voo nupcial, e depois disso volta para realmente iniciar as atividades da colméia. A nova colméia se torna independente após aproximadamente um mês. Tive a oportunidade de testemunhar esse processo nas minhas abelhas, que por enquanto ainda são desconhecidas no nome. Uma caixa simples onde morava uma jataí que sucumbiu, provavelmente orfãn, servindo de atrativo para a nova colméia. A colméia estava praticamente pronta, porém quase sem indivíduos, e ausência de rainha, estavam assim em pleno processo de enxameagem.
    São criados nos favos ou cachos células onde as operárias depositam uma quantidade de alimento, após a rainha coloca um o ovo e a célula é fechada. Do ovo surge a larva que depois passa pela fase de pré-pupa onde a larva se envolve num casulo passando por uma transformação. Durante o processo de transformação passa a ser pupa, e quando chegar o tempo certo irá eclodir na sua forma adulta, os favos terão cor mais clara. Toda essa transformação dura aproximadamente de 45 dias sendo um pouco mais para machos e um pouco menos para rainhas virgens.
    Operárias e rainhas virgens vivem aproximadamente 55 dias, porém rainhas poedeiras vivem de 1 a 3 anos. Somente após 25 dias as abelhas operárias se tornam campeiras, ou seja exercem a função de colher alimento, antes disso exercem funções como proteção, limpeza da colméia e auxílio na postura da rainha.
O mel de Mata Campo é bastante apreciado
Assim operárias visitam flores principalmente para fazer a coleta de pólen e néctar, sendo esse último desidratado para a produção de mel, que a fonte de energia para as épocas de falta de alimento, e aqui na minha região principalmente para o inverno rigoroso. Assim o gosto e cor são influenciados diretamente pelas floradas existentes na região, onde gostaria de destacar que floradas de citros acredito eu que dão os melhores méis, em especial das laranjeiras. O cheiro doce que algumas flores tem na verdade é feito por óleo, que também são aproveitados por muitos tipos de abelhas. Dentre a composição do mel encontra-se a frutose, glicose, sacarose, maltose e água que pode variar de 15% a 21%, sendo que abaixo de 18,5% o mel já é considerado maduro, ou seja , quanto menor a quantidade de água mais denso e cristalizado, mais maduro ele estará.
Talvez uma das árvores com maior produtividade de mel seja a Uva Japonesa (exótica)






Até mesmo para a agricultura elas são exenciais, onde a polonização define literalmente a produção, é o caso do trigo, soja, melão, milho, laranjeiras, maracujazeiros, bananeiras, tangerineira, mamoeiros, mandioca, feijoeiro e pepino.
Excelente qualidade de mel (flor de laranjeira)
As abelhas nativas podem sucumbir também, além da orfandade, devido o ataque de outros insetos, como os que gostaria de citar brevemente aqui:
1. Forídeos: as larvas destas pequenas moscas bem
ligeiras (dípteros) se alimentam do mel. A colméia sucumbe literalmente por falta de alimento.
2. Formigas: gostam de açúcar e não hesitam em entrar na colméia para lamber o mel. Ataques em massa podem ser fatais.
3. Abelhas Limão: são abelhas (lestrimelita limão) que conseguem o seu alimento em ataques maciços
contra os ninhos de outras abelhas sem ferrão, dominando totalmente suas vítimas ao soltar um
cheiro de limão, que bloqueia a comunicação das mesmas, confundindo-as e desmobilizando-as, são encontradas na região sul.
Outras vezes uma colméia pode simplesmente sucumbir por causa de outros fatores como por exemplo a degradação do tronco de árvore, pela chuva, por cupins, em fim. Aqui na minha região talves o maior causador seja o fator frio, que é bastante rigoroso chegando a temperaturas negativas.
Para se defenderem as colônias são construídas em locais de difícil acesso, como em cavidades, ou em ninhos de outros animais, como por exemplo, cupis e até certas formigas podem ser encontradas convivendo com abelhas jataí por exemplo, mesmo não se sabendo por quanto tempo é claro. Em quase sua totalidade, a entrada para o ninho é guardada por sentinelas, outros fecham a entrada com resina, e se mesmo assim o inimigo insistir, o ataque é feito enroscando-se nos pelos, e penetrando nos ouvidos e narina como faz a abelha Irapuã/irapuá, e usando suas poderosas mandibulas a maioria das abelhas nativas usa-se desse método para se defender, sendo que existem espécies mais perigosas, como por exemplo a "caga-fogo" (Oxytrigona) que libera uma substância cáustica (ácido fórmico) a partir de suas glândulas mandibulares, resultando em sérias queimaduras.
Assim como as abelhas limão que saqueiam abelhas nativas, ao se abrir uma colméia abelhas do gênero Apis podem se tornar perigosas, pois para o caso da jataí quando atacada precisa se defender com pelo menos três abelhas para cada Apis. Saques podem ocorrer até mesmo por outras espécies nativas, é o caso da irapuá que em épocas de falta de alimentos podem atacar colméias próximas, sabendo-se que o alcance médio é de num raio de 800m.
Tenho uma colméia de irapuá em casa, somente para observações, sendo que está afastada a cerca de 300m de colméias de Apis e por volta de 800m de colméias de jataí.
Gostaria de descrever alguns hábitos de abelhas nativas resumidamente. As jataís são ao meu ver as mais higiênicas, pois além de separar os potes de mel dos detritos, durante as floradas elas se empenham em não misturar pólen e néctar de flores diferentes. Bastante resistentes ao frio rigoroso do sul, de simples criação e principalmente mansas. Tem um alcance aproximado num raio de 500m, e o seu mel é tido como medicinal. Em caixas racionais produzem até 2L por ano, dependendo a região.
Abelhas irapuá são o contrário quanto a higiene se comparados com as jataí. Para a construção de sua colméia usam gravetos, e o ingrediente especial, misturado a cera, estrume bovino. Tem uma certa agressividade, mesmo não tendo ferrão, possuem uma mandíbula forte sendo sua principal defesa além de se enroscarem em cabelos e penetrarem em orifícios como as orelhas e narinas. Sua manipulação precisa ser feita como o uso de equipamento apropriado. O mel que muitos dizem ser toxico segundo minha opinião é um mito, pois não achei fontes suficientes que comprovem isso, assim basta pasteuriza-lo que estará pronto para o consumo.
Para finalizar gostaria de destacar que a criação de abelhas nativas é muito importante sob o meu ponto de vista, pois um ciclo de energia, de alimentação, por que não dizer um ciclo de vida é mantido, além de serem cada vez mais utilizadas para simplesmente auxiliar na polonização de cultivos agrícolas. Gostaria de destacar que meu próximo experimento vai ser a colocação de colmeias jataí, uma das mais higiênicas em pomares aqui em casa, onde pés de maçã, laranja, bergamota, abóbora, maracujá, pêssego  nectarina, mamão, limão, carambola, pera, goiaba, feijão, milho, figo, romã, manga, melancia, girassol e outras cultivares poderão ser auxiliados de alguma forma, aumentando a produção do pomar e dando um gosto especial ao mel. Fonte: Livro - Vida e Criação de Abelhas Indígenas Sem Ferrão - Paulo Nogueira Neto.

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