Pesquisas indicam que pelo menos um terço da alimentação humana
depende direta e indiretamente da polonização feita pelas abelhas,
em especial as nativas que realizam a tarefa de forma fundamental,
pois a realizam em espécies específicas onde as abelhas “comuns”
não realizam. Esse processo é chave para tudo, pois a planta
necessita transferir células reprodutivas para outra flor ou até
mesmo para outra planta para se reproduzir através de frutos. Nas
flores encontra-se o pólen que alimenta as abelhas de proteínas,
lipídios e vitaminas e o néctar que será usado para a produção
de mel, fonte de carboidratos e energia, usados nas épocas frias, ou
de falta de floradas. Assim um depende do outro, e quem acaba se
beneficiando no final somos nós, seja pelo próprio mel seja pelo
ciclo de vida que é mantido.
O
que fazer para manter esse ciclo vital? Acredito que os primeiros
passos sejam conservar a natureza em si e pesquisar os hábitos de
sobre vivência dessas espécies.
Indo
direto ao assunto, as abelhas nativas são divididas entre Meliponini
e Trigonini. A principal diferença que as distingue é a criação
de rainhas. As Meliponini não possuem células reais, elas são
definidas geneticamente, já as Trigonini tem células reais que são
maiores e recebem então mais alimento. Como está estruturada uma
colméia? Basicamente ela possui uma hierarquia: operárias (fêmeas),
rainha(s) e zangões.
As
operarias são abelhas femeas que tem por função principal manter a
limpeza, proteger e trazer alimento. Podem representar mais de 80%
dos indivíduos. A rainha é responsável pela postura de ovos, ou
seja ela é quem literalmente repõem os indivíduos na colméia. Sem
rainha poedeira, uma colônia se torna órfão, e se nada for feito
está condenada a sucumbir. Em certas espécies podem existir mais de
uma rainha poedeira além de ter sempre rainhas virgens aprisionadas,
prontas para uma possível substituição, ou para uma enxameração.
Já os machos tem uma característica em especial se comparados com
os da espécie Apis, onde eles não executam função além da
reprodução. Aqui eles podem executar tarefas simples como
desidratação de néctar e manipular a cera. Algo curioso que quero
destacar aqui é de que quando uma colméia fica orfãn, em certas
espécies abelhas operárias também podem fazer a postura de ovos, o
que na sua grande maioria origina somente machos. Então ao se
observar uma colméia principalmente do gênero Melliponini, onde a
quantidade de machos é enorme, a colméia está prestes a sucumbir,
pois isso é uma medida emergencial digamos assim.
Agora
quanto a forma do ninho, ele tem duas estruturas principais, o ninho
e os potes de alimento, além de ter estruturas auxiliares como o o
túnel de acesso, a entrada, batume e invólucro.
Os
potes de alimento na sua grande maioria são em forma de ovo, sendo o
mel e o pólen separados. Já o ninho pode ser organizado na forma de
favos ou em cachos de células de cria, que recebem uma mistura de
mel e pólen que vai sustentar a cria durante seu desenvolvimento,
depois de eclodir elas se alimentam principalmente de mel. Aqui quero
destacar um fato importante: em algumas espécies, uma rainha pode se
originar quando a larva comer o alimento da célula de cria ao lado e
durante a fase de pré-pupa, ela realmente tecer um casulo real. Em
outros casos, o que não é raro em certas espécies, uma operária
coloca se ovo, e passa despercebido pelas outras e pela rainha, onde
esta vai e coloca o seu ovo também na mesma célula de cria. O ovo
da operária como o ovo depositado pela rainha e invade o a célula
ao lado originando os machos, mas isso somente em certos casos.
Continuando,
o invólucro tem a função de isolante térmico da colméia, e
principalmente do ninho. A entrada é a porta da casa , sempre
vigiada por sentinelas. Esta está conectada ao túnel de ingresso
que sempre possui guardas a disposição, pois logo depois há o
invólucro e o ninho, o coração de cada colméia.
O
batume por sua vez tem como exclusiva função proteger a colméia da
chuva estando na parte superior, e permitir a ventilação e
escoamento de água na parte inferior.
É
fundamental ter uma noção da organização de uma colméia que irá
seguir basicamente os mesmos conceitos em todas as espécies nativas
sem ferrão. Uma
colméia origina outra quando estiver num ponto adequado de faze-lo,
precisando ter em primeiro lugar abundancia de alimento, ou seja nas
floradas onde néctar e polén estão em abundância. Depois é
necessário que tenha uma população excedente, onde algumas
operárias vão em busca de uma nova moradia, estudando as melhores
opções, e depois começa-se a organização da nova colméia.
As
duas colméias ficam ligadas por até mesmo um mês, para que a nova
morada tenha boas condições de começar uma vida nova. Depois de
organizada, algumas operárias e uma rainha virgem partem para a nova
colméia. Após isso a rainha realiza o voo nupcial, e depois disso
volta para realmente iniciar as atividades da colméia. A nova
colméia se torna independente após aproximadamente um mês. Tive a
oportunidade de testemunhar esse processo nas minhas abelhas, que por
enquanto ainda são desconhecidas no nome. Uma caixa simples onde
morava uma jataí que sucumbiu, provavelmente orfãn, servindo de
atrativo para a nova colméia. A colméia estava praticamente pronta,
porém quase sem indivíduos, e ausência de rainha, estavam assim em
pleno processo de enxameagem.
São
criados nos favos ou cachos células onde as operárias depositam uma
quantidade de alimento, após a rainha coloca um o ovo e a célula é
fechada. Do ovo surge a larva que depois passa pela fase de pré-pupa
onde a larva se envolve num casulo passando por uma transformação.
Durante o processo de transformação passa a ser pupa, e quando
chegar o tempo certo irá eclodir na sua forma adulta, os favos terão
cor mais clara. Toda essa transformação dura aproximadamente de 45
dias sendo um pouco mais para machos e um pouco menos para rainhas
virgens.
Operárias
e rainhas virgens vivem aproximadamente 55 dias, porém rainhas
poedeiras vivem de 1 a 3 anos. Somente
após 25 dias as abelhas operárias se tornam campeiras, ou seja
exercem a função de colher alimento, antes disso exercem funções
como proteção, limpeza da colméia e auxílio na postura da rainha.
O mel de Mata Campo é bastante apreciado |
Talvez uma das árvores com maior produtividade de mel seja a Uva Japonesa (exótica) |
Até
mesmo para a agricultura elas são exenciais, onde a polonização
define literalmente a produção, é o caso do trigo, soja, melão,
milho, laranjeiras, maracujazeiros, bananeiras, tangerineira,
mamoeiros, mandioca, feijoeiro e pepino.
Excelente qualidade de mel (flor de laranjeira) |
1.
Forídeos: as larvas destas pequenas moscas bem
ligeiras
(dípteros) se alimentam do mel. A colméia sucumbe literalmente por
falta de alimento.
2.
Formigas: gostam de açúcar e não hesitam em entrar na colméia
para lamber o mel. Ataques em massa podem ser fatais.
3.
Abelhas Limão: são abelhas (lestrimelita limão) que conseguem o
seu alimento em ataques maciços
contra
os ninhos de outras abelhas sem ferrão, dominando totalmente suas
vítimas ao soltar um
cheiro
de limão, que bloqueia a comunicação das mesmas, confundindo-as e
desmobilizando-as, são encontradas na região sul.
Outras
vezes uma colméia pode simplesmente sucumbir por causa de outros
fatores como por exemplo a degradação do tronco de árvore, pela
chuva, por cupins, em fim. Aqui na minha região talves o maior
causador seja o fator frio, que é bastante rigoroso chegando a
temperaturas negativas.
Para
se defenderem as colônias são construídas em locais de difícil
acesso, como em cavidades, ou em ninhos de outros animais, como por
exemplo, cupis e até certas formigas podem ser encontradas
convivendo com abelhas jataí por exemplo, mesmo não se sabendo por
quanto tempo é claro. Em quase sua totalidade, a entrada para o
ninho é guardada por sentinelas, outros fecham a entrada com resina,
e se mesmo assim o inimigo insistir, o ataque é feito enroscando-se
nos pelos, e penetrando nos ouvidos e narina como faz a abelha
Irapuã/irapuá, e usando suas poderosas mandibulas a maioria das
abelhas nativas usa-se desse método para se defender, sendo que
existem espécies mais perigosas, como por exemplo a "caga-fogo"
(Oxytrigona) que libera uma substância cáustica (ácido fórmico) a
partir de suas glândulas mandibulares, resultando em sérias
queimaduras.
Assim
como as abelhas limão que saqueiam abelhas nativas, ao se abrir uma
colméia abelhas do gênero Apis podem se tornar perigosas, pois para
o caso da jataí quando atacada precisa se defender com pelo menos
três abelhas para cada Apis. Saques podem ocorrer até mesmo por
outras espécies nativas, é o caso da irapuá que em épocas de
falta de alimentos podem atacar colméias próximas, sabendo-se que o
alcance médio é de num raio de 800m.
Tenho
uma colméia de irapuá em casa, somente para observações, sendo
que está afastada a cerca de 300m de colméias de Apis e por volta
de 800m de colméias de jataí.
Gostaria
de descrever alguns hábitos de abelhas nativas resumidamente. As
jataís são ao meu ver as mais higiênicas, pois além de separar os
potes de mel dos detritos, durante as floradas elas se empenham em
não misturar pólen e néctar de flores diferentes. Bastante
resistentes ao frio rigoroso do sul, de simples criação e
principalmente mansas. Tem um alcance aproximado num raio de 500m, e
o seu mel é tido como medicinal. Em caixas racionais produzem até
2L por ano, dependendo a região.
Abelhas
irapuá são o contrário quanto a higiene se comparados com as
jataí. Para a construção de sua colméia usam gravetos, e o
ingrediente especial, misturado a cera, estrume bovino. Tem uma certa
agressividade, mesmo não tendo ferrão, possuem uma mandíbula forte
sendo sua principal defesa além de se enroscarem em cabelos e
penetrarem em orifícios como as orelhas e narinas. Sua manipulação
precisa ser feita como o uso de equipamento apropriado. O mel que
muitos dizem ser toxico segundo minha opinião é um mito, pois não
achei fontes suficientes que comprovem isso, assim basta
pasteuriza-lo que estará pronto para o consumo.
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